As pessoas que podiam, normalmente, a quase todos os anos, matavam um porco. Havia pessoas até que matavam dois. Era mais ou menos em Novembro e, porque nem todos podiam, em Março. Quanto mais frio estiver melhor fica a carne. Para segurar o porco e isso tudo, havia uns homens válidos naquele tempo, nem todos. Porque para os sangrar é preciso saber, convém tirar-lhe o sangue todo fora. E depois também para o abrir tinha o seu preceito. Por exemplo, um falecido indivíduo que morreu na minha casa (ainda era a casa antiga), esse tinha jeito para matar os porcos. Mas houve aí assim diversos. O porco era morto, preparado e dependurado. Era preso com uma coisa de um tronco de oliveira, a que chamavam um chambaril, e estava ali até enxugar. Eram chamuscados com carquejas que davam um certo gosto à carne. E depois, claro, com umas facas bem afiadas raspavam aquilo. Dava muito trabalho, mas era uma alegria!
Todas as casas tinham uma tina. Era uma arca em madeira, em pinho, que estava nas lojas. Naquele tempo, a carne de porco ia para a salgadeira. Estava ali um certo tempo no sal e depois era tirada. Bem, menos os lombos e aquelas partes de carne que faziam morcelas, chouriço de carne - chama-se linguiça, mas é chouriço de carne, farinheiras... Depois de secos eram postos numas panelas metidas em azeite. Aquilo estavam sempre ali que era uma maravilha! E então o lombo de porco mesmo com a parte da gordura toda? Meio frito e posto numa panela coberto com aquele óleo depois, quando se tirava, nem queiram saber o que era aquilo! Os presuntos punham-se a secar no fumeiro e aquela carne assim mais gorda cortava-se aos bocadinhos para pôr nas sopas. Até os ossos da cabeça se aproveitavam. Coziam-nos e faziam o espinhaço. Eu gosto daquilo tudo. Era muito boa! A carne ainda se come, mas já não é aquele gosto que era.Tomara eu hoje apanhá-la!