Praticamente quando comecei a andar, talvez com 7 anos, já ia com a minha mãe para o pé dos animais. Ajudava a guardar as ovelhas. Para os meus pais andarem a trabalhar na fazenda, alguém tinha que olhar pelos animais. Tinha-se que cortar mato para ter as camas dos animais limpos. Então, abria-se-lhe a porta dos currais e deitavam-se para a rua. No Inverno andavam ali assim umas horas. No Verão deitavam-se de manhã e depois à tarde, porque elas, coitadas, comem, comem, comem... parece que nunca estão satisfeitas. Os animais eram nossos amigos! As cabras e as ovelhas, se não vissem as pessoas, paravam, até nem comiam. Gostavam das pessoas ao pé.
Mas davam uma carne muito boa e um leite que era uma maravilha! Aquele queijinho feito com esse leite, era bom em qualquer altura, mas principalmente em Abril e Maio, quando as carquejas tinham muita flor e as cabras e as ovelhas comiam aquilo, faziam um queijo que era uma maravilha. O leite era coado e preparado para fazer o queijo, mas guardava-se também uma parte para se comer, que era muito bom o leite de cabra. Os pastores, muitas vezes, levavam um bocado de broa, chegavam ao pé de uma cabra, tiravam o leite para uma vasilha e comiam. E assim matavam a fome. Foram tempos difíceis mas, naquela altura, os animais estavam limpos, não tinham doenças. Bebia-se o leite de cabra sem ser fervido e nunca houve problemas.